Abastecimento na próxima estiagem deve ser pensado desde já
22/09/25

Divulgação
Em mais um ano, a situação do abastecimento hídrico na Região Metropolitana de Jundiaí (RMJ) enfrenta sérios desafios. Com abastecimento intermitente, cidadãos de Várzea Paulista, por exemplo, dispõem de 12 e 14 horas de fornecimento de água por dia. Mas a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) nega que haja rodízio na RMJ neste ano.
Segundo a Sabesp, o que ocorre neste período de estiagem é a redução no nível dos mananciais, o que exige medidas operacionais para garantir a regularidade no abastecimento. Em Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista, foram acionadas captações alternativas e realizadas manobras operacionais com a interligação de sistemas para reforçar o volume de água disponível.
Já em Itupeva, além das manobras preventivas e emergenciais, a Sabesp informa que está executando obras estruturantes que ampliam a oferta de água, como a nova Estação de Tratamento de Água (ETA São José), já em operação parcial, e a construção de três novos reservatórios, com previsão de conclusão até julho de 2026. Jundiaí vem oferecendo água à cidade vizinha há 15 dias.
Em Jundiaí, a DAE informa que segue monitorando constantemente a Represa de Acumulação e mantém ativa a reversão do Rio Atibaia, além de intensificar campanhas de uso consciente da água. Essas ações preventivas visam garantir o abastecimento da cidade durante o período de estiagem.
Atualmente, a represa está com 67% da capacidade total, índice semelhante ao de anos anteriores. Não há, neste momento, qualquer medida de racionamento ou redução de pressão na rede, e o fornecimento segue normal, de acordo com a DAE.
A discussão de anos
Secretário executivo do Consórcio PCJ, entidade que estuda, arrecada recursos e faz aplicações em ações ambientais nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Francisco Lahóz diz que há anos há alertas sobre a situação climática. “O Consórcio PCJ atenta, desde 1992, à importância da reservação de água para a sustentabilidade hídrica das Bacias PCJ, quando em parceria com o então DAEE, hoje SP Águas, produziu um estudo no qual já orientava sobre a importância da construção de reservatórios de água bruta na região.”
“Além disso, a entidade fomenta a construção de pequenos reservatórios municipais em ribeirões e córregos no território municipal com potencial de reservação, como uma forma ampliar a segurança hídrica para períodos de seca ou de crises hídricas”, diz Lahóz, lembrando que isso acontece em Jundiaí, que tem uma represa própria de armazenamento de água e que a população também pode contribuir, investindo em estruturas para coleta de água de chuva, principalmente em novas construções.
E se o clima ficar extremo?
Um boletim hidrológico da PCJ divulgado recentemente alerta para a alta possibilidade do fenômeno La Niña durante os próximos meses, o que pode diminuir a intensidade das chuvas de verão. Sobre isso, Francisco Lahóz diz que a região sofre com estresse hídrico e, por isso, “a gestão de recursos hídricos na nossa região é feita gota a gota”.
“As mudanças climáticas têm gerado cada vez mais eventos hidrológicos extremos, o que exige ainda mais dos nossos sistemas de gerenciamento de recursos hídricos. Podemos dizer que sobreviveremos a essa estiagem e para a próxima é necessário iniciar a preparação imediatamente. As recomendações do Consórcio PCJ são sempre pensadas desde um cenário mais ameno até em situações de crise. A Operação Estiagem 365 está ativa no momento, com recomendações de atividades e contingenciamento respeitando a gravidade da situação.”
E, ante a esta possibilidade, cresce a preocupação em relação ao custo da água tratada. “Uma das [orientações do Consórcio PCJ] que envolvem os serviços de água é justamente o reforço dos estoques de insumos para o tratamento de água, uma vez que, com a intensificação da estiagem, a qualidade da água cai devido à diminuição dos volumes de vazão nos rios da região. Esse tipo de operação, num primeiro momento, não impacta no valor da conta de água, já que esses custos entram na previsão dos orçamentos e planejamento dos serviços de água a cada ano. O plano de contingenciamento já deve prever a absorção de um possível aumento de custos de tratamento devido a secas mais severas”, explica o secretário executivo do Consórcio PCJ.
Para quem puder, seja o Poder Público, empresas, produtores rurais e também o cidadão, o armazenamento de água é cada vez mais necessário, segundo o especialista. "A disponibilidade hídrica da região é de até 1.000 m³ por habitante por ano. Só para se ter ideia, durante a estiagem, nossa disponibilidade chega a bater os 400 m³ por habitante por ano. Por isso, toda gota de água é válida. Não bastam apenas obras estruturais feitas pelo Poder Público que, diga-se de passagem, são extremamente importantes e relevantes, mas precisamos da participação de todos. Os municípios e o Estado têm de fazer a sua parte, com as obras de infraestrutura e sensibilização, mas o setor privado, os proprietários rurais e a sociedade também precisam."
