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Cerrado perde água natural em 91% das bacias hidrográficas nas últimas quatro décadas

08/05/25

Cerrado perde água natural em 91% das bacias hidrográficas nas últimas quatro décadas

Thomas Bauer/Instituto Sociedade População e Natureza - Arquivo

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O Cerrado vem enfrentando uma severa crise hídrica: em 91% de suas bacias hidrográficas, a superfície de água natural diminuiu ao longo das últimas quatro décadas. Em 2024, a área total de superfície de água mapeada ficou 28,8% abaixo da média histórica (1985-2024), ocupando aproximadamente 1,85 milhão de hectares.

Apesar desse cenário, a construção de reservatórios e hidrelétricas levou a um aumento da superfície de água artificial, resultando em um crescimento de 11% na área total de água do bioma. O fenômeno mascara a crise, já que esses corpos hídricos artificiais dependem de fontes naturais, que seguem em declínio.

Os dados foram divulgados pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) por meio do MapBiomas Água. O estudo aponta o desmatamento, a expansão agropecuária e as mudanças climáticas como fatores determinantes para a redução da água no bioma.

A perda de água natural no Cerrado ameaça o abastecimento de cerca de 68 milhões de pessoas. O bioma é responsável pela irrigação de lavouras e pela alimentação de importantes rios do Brasil, garantindo o equilíbrio hídrico de outros biomas, como o Pantanal, que sofre com secas cada vez mais intensas.

Atualmente, o Cerrado abriga 60% da produção agrícola nacional e metade da agricultura irrigada do país. Com a redução da disponibilidade de água, a produtividade do setor pode ser comprometida, gerando impactos socioeconômicos significativos, alerta o estudo.

As regiões mais afetadas
As maiores perdas de água natural ocorreram no planalto do Alto Paraguai, região de transição entre o Cerrado e o Pantanal, essencial para a regulação dos ciclos de cheias e secas.

A bacia do Rio Nabileque registrou a maior redução, com 90% de perda de superfície de água natural (-73,2 mil hectares) entre 1985 e 2024. Também foram fortemente afetadas as bacias dos rios Negro (-88%), Paraguai (-71%), Miranda (-70%) e Madeira (-65%).

Outras regiões impactadas incluem a fronteira agrícola do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e a divisa entre São Paulo e Minas Gerais. No Matopiba, as bacias do Grande São Francisco e Carinhanha perderam, respectivamente, 60% e 58% de suas áreas de água natural.

Expansão de reservatórios esconde o problema
Embora a água natural esteja desaparecendo, a superfície de água artificial no Cerrado tem aumentado. Em 2024, 68,5% das bacias do bioma registraram crescimento na área de água devido à construção de hidrelétricas e reservatórios, como o da hidrelétrica de Serra da Mesa, no rio Tocantins.

O levantamento mostra que a expansão das áreas de água ocorreu principalmente em reservatórios (+54%) e hidrelétricas (+93%). No entanto, especialistas alertam que esses corpos d’água são abastecidos por rios e nascentes que estão sob pressão crescente devido ao desmatamento e às mudanças climáticas.

Desmatamento e insegurança hídrica
O desmatamento é um dos principais responsáveis pela crise hídrica no Cerrado. A retirada da vegetação nativa reduz a capacidade dos ecossistemas de reter água, prejudicando a recarga dos lençóis freáticos e agravando o risco de secas.

Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado mostram que 31% das bacias que perderam água natural também sofreram aumento do desmatamento entre 2023 e 2024. Além de reduzir a quantidade de água disponível, o desmatamento intensifica a erosão e a sedimentação dos rios, prejudicando a qualidade da água utilizada para abastecimento humano, agricultura e geração de energia.

Caminhos para reverter o quadro
Para conter a crise hídrica no Cerrado, especialistas defendem o controle do desmatamento e a implementação efetiva do Código Florestal. A proteção de Áreas de Preservação Permanente, especialmente nascentes e margens de rios, é fundamental para recuperar o equilíbrio hídrico.

Além disso, práticas sustentáveis na agropecuária, como o manejo eficiente da água e a conservação da vegetação nativa, podem minimizar os impactos. Projetos de restauração florestal e a preservação dos mananciais também são medidas essenciais para garantir a segurança hídrica de milhões de brasileiros e a sobrevivência dos biomas conectados ao Cerrado.

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