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Cidades mudam realidade com água limpa e esgoto tratado

11/04/24

Cidades mudam realidade com água limpa e esgoto tratado

Hélio Filho/Secom

Saneamento básico é garantia de desenvolvimento regional e mais dignidade para as pessoas. E isso não está só nas teorias. A prática mostra que ter água limpa e esgoto coletado e tratado muda a vida de comunidades inteiras.

​Derli Heuller é um pedreiro que mora na cidade de Santa Leopoldina há nada menos do que 50 anos. E vivendo em uma das “três santas”, município vizinho de Cariacica, ele conhece todas as realidades da água.

​“Depois que muitos moradores vieram para essa localidade, muito esgoto foi jogado no córrego. Aí a água nem tinha como chegar perto mais. Muito suja, com cheiro ruim. Fiquei muito triste na época. O coração chega ficava apertado”, conta o pedreiro, que até nadava no Córrego Nove Horas.

​E a realidade do esgoto sem tratamento sendo jogado em um manancial de Santa Leopoldina não era só no córrego da lembrança de Derli.

​Em um outro córrego, o da Caixa D’Água, as lembranças de tempos turbulentos estão na memória de outro morador da região. Guilherme Jocarli Baibler conta que viu o córrego morrendo pouco a pouco.

​“Só passava uma biquinha de água. Vivia fedendo direto. Era só esgoto purinho e a gente aqui se sentia muito mal por isso”, relembra o morador da região, para completar em seguida: “Agora dá para ficar perto, tomar banho. Mudou para muito melhor. Água é vida! Sem água, ninguém vive”.

​Chegada da estação de tratamento

A história dos dois córregos mudou com a chegada da estação de tratamento de esgoto na região, que foi inaugurada em outubro de 2023.

​Hoje eles estão limpos, ganharam volume e fazem parte do dia a dia de Guilherme e Derli. E não só deles dois, mas também do Rio Santa Maria da Vitória, um dos principais responsáveis pelo abastecimento da Grande Vitória.

​A estação teve investimento de R$ 19 milhões e tem capacidade para tratar 777 mil litros de esgoto por dia. Mas não adianta só oferecer o tratamento, as casas precisam se ligar à rede. E foram feitas quase 1.500 ligações gratuitas de imóveis à rede Cesan. Cerca de 3 mil pessoas foram beneficiadas. Além disso, os moradores já contam com o serviço de abastecimento de água universalizado.

​“Água limpa e esgoto tratado proporcionaram melhorias em tão pouco tempo no saneamento da cidade. Todo esgoto produzido em Santa Leopoldina está chegando à estação e sendo tratado com uma eficiência na retirada de matéria orgânica de 95% depois de cinco meses de operação. Ou seja, a gente pega o esgoto que era lançado nos córregos e entrega praticamente sem poluição nenhuma”, atesta o gerente da Unidade de Projetos da Cesan, Luiz Cláudio Rodrigues.

Retorno na geração de negócios

E dá para perceber a reação em cadeia que isso gera. Porque agora, com córregos limpos e tendo a natureza como atrativo, o município já pensa em explorar o turismo. A ideia é mostrar aos visitantes que o saneamento pode ser visto sim e apreciado em forma de rios limpos e vida saudável.

​“O saneamento abre a possibilidade de investimentos do setor privado na cidade. O rio hoje é propício para receber investimentos no lazer e isso é muito bom para a nossa economia local”, afirma o vice-prefeito de Santa Leopoldina, Marcos Rauta.

Em busca da universalização

E Santa Leopoldina deu o primeiro passo para universalizar a entrega de água e esgoto tratados para a população. Em Viana, na Grande Vitória, a ampliação da estação deve deixar a maior parte da população com acesso ao saneamento básico.

​A estação foi inaugurada em dezembro de 2023 e a estimativa é que trate 113 milhões de litros de esgoto por mês. Isso equivale a 45 piscinas olímpicas cheias do que o município descarta depois do uso. A obra beneficia diretamente mais de 50 mil moradores de 8 bairros da cidade. Três mil imóveis foram ligados à rede de graça.

“Isso trouxe benefícios importantes para o nosso município. Hoje a gente soma mais de 17 mil residências conectadas à rede de esgoto e esses números nos ajudam a alcançar nosso objetivo de chegar até 2026 com o saneamento universalizado na cidade”, pontua o prefeito de Viana, Wanderson Bueno.

​Alguns municípios do Estado já estão dentro dos parâmetros de universalização. Oito têm água para 99% da população e seis cidades têm 90% da população com acesso à coleta e tratamento de esgoto.

​Os dados em tempo real são acompanhados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-ES). Ou seja, ainda há um longo caminho para os municípios capixabas.

​Ligar casas às redes deve ser foco de gestores

O biólogo Daniel Gosser Motta aponta que as experiências de Santa Leopoldina, Viana e de outras cidades em todo país podem ajudar muito no desafio de levar água e esgoto tratados aos capixabas. E tudo passa por dois pilares: investimentos e conscientização da população.

​“Fazendo uma leitura dessas cidades, tem o fator conscientização da população. Elas focaram muito nisso, porque por mais que você não seja ligado em uma rede de esgoto, você pode ser cobrado pela taxa de esgoto. Oferecer a ligação gratuita pode ser uma ótima alternativa”, diz o biólogo

​“Além disso, pessoas de baixa renda, incluídas no Cadúnico, por exemplo, podem ter um desconto substancial na taxa de esgoto, 50%, por exemplo. Isso é uma forma de incentivar a ligação na rede. Algumas destas cidades, como no interior de São Paulo e também no Paraná, fizeram parcerias público-privadas. Então, esses pilares, investimento e conscientização ambiental, são as principais estratégias que devem ser adotadas pelas cidades”, declarou o biólogo.

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