top of page

Imagens de satélite mostram Rio Tietê se transformando em 'tapete verde' no interior de SP

11/04/25

Imagens de satélite mostram Rio Tietê se transformando em 'tapete verde' no interior de SP

Rogério Pedrozo/TV TEM

banner osasco jogue lixo no lixo 970x250px 02 04 25.jpg

Eat

Imagens capturadas por satélite e obtidas pelo g1 mostram a diferença na cor do trecho do Rio Tietê em um intervalo de dois meses.

As imagens do afluente em Nova Avanhandava (SP), cidade na região de Araçatuba (SP) banhada pelo Rio Tietê, que tem 21 mil hectares de área alagada com 10 piscicultores, foram extraídas do Sentinel-2, um dos satélites do Copernicus, programa de observação terrestre mantido pela União Europeia para monitorar mudanças climáticas na Terra.

Na semana da Quaresma, que antecede a Sexta-Feira da Paixão (18), quando fiéis católicos priorizam o consumo de peixes, pescadores e piscicultores de tilápia temem o desemprego, uma vez que não conseguem ofertar pescados, e sofrem com prejuízos devido à mortandade de exemplares da espécie.

O g1 comparou imagens capturadas entre fevereiro e abril deste ano com registros feitos no mesmo período de 2024. O levantamento também mostra a evolução da qualidade da água, de 2018 a 2025 (assista acima). A imagem abaixo mostra um trecho do Rio Tietê, sendo que, à esquerda se refere ao mês de abril e, à direita, ao mês de fevereiro.

Especialistas, biólogos e autoridades ambientais apontam que a cor verde é causada pela presença de algas que, em crescimento anormal, consomem o oxigênio e causam a mortandade de peixes.

Contudo, a professora e pesquisadora sobre os ambientes aquáticos de água doce da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Maria Stela Castilho, explicou que a água do Rio Tietê aparece mais escura e "limpa" em abril, uma vez que as algas têm um ciclo de vida curto e vivem apenas algumas horas.

As baixas temperaturas do outono predominantes em abril colaboram para a desaceleração na reprodução das algas, que se adaptam aos ambientes quentes. A diminuição das chuvas durante a estação também impacta, já que não carrega e leva os nutrientes - que servem de "alimento" para elas - para a água. O efeito, continua a pesquisadora, é uma água mais "limpa" (saiba mais).

Apesar disso, a água verde, que, segundo o levantamento da reportagem, começou a se intensificar há dois meses, leva a um problema em cadeia, que afeta a pesca, produção de pisciculturas e venda dos peixes, o que gera impactos econômicos negativos.

Impactos econômicos

O diretor da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (Peixes-SP), Emerson Esteves, revelou que a associação estima que produtores em Zacarias (SP), por exemplo, perderam pelo menos 50% dos peixes capturados desde segunda-feira (7), o que equivale a cerca de 100 toneladas.

O noroeste paulista é responsável por 70% da produção de tilápia no estado de São Paulo. Somente Zacarias, cidade com 2,6 mil habitantes, corresponde a 20% da produção, ou seja, é a segunda maior produtora em tanque-rede do estado.

A perda econômica, portanto, é real, alerta o piscicultor. Conforme Emerson, alguns criadores estão antecipando as vendas de peixes cada vez menores, ou seja, menos tempo de engorda, e mais baratos - evitando, assim, a mortalidade. Outros, optam pela migração para outras regiões.

“Para o piscicultor, o bem maior é a água. A quaresma é o Natal deles. Esses impactos são significativos porque temos uma cadeia de produção já estabelecida na região, que já estão migrando para outras regiões para buscar peixes, e não estão encontrando porque já existem acordos comerciais firmados, o que aumenta o preço”, revela Emerson.

Segundo o diretor da Peixes-SP, o estado é o segundo maior produtor de tilápias do país, atrás do Paraná e à frente de Minas Gerais, mas as condições do Tietê e as perdas desse ano devem fazer o estado cair no ranking.

"Impacta muito porque isso dificulta vir novos investimentos para a região, então, o estado continua não crescendo na sua produção. Tenho certeza de que Minas em 2025 ultrapassa São Paulo", completa Emerson.

Entre eles está o piscicultor Rômulo Cury, que chegou a perder quase 60 toneladas de peixes por causa do problema. Para evitar mais prejuízo, esse ano ele vendeu o pescado antes e com peso menor.

"A insegurança é muito grande porque o ciclo do peixe é praticamente oito meses. Essa insegurança de novamente pôr peixe na água, fazer o repovoamento, correndo o risco, sabendo que é difícil reverter. Foram anos para atingir essa poluição que está chegando aqui no interior", lamenta Rômulo.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), entretanto, informou na terça-feira (8), por meio de nota, que não foram registradas ocorrências de mortandade na Agência Ambiental local entre os dias 7 e 8 de abril.

💧 Sem água, sem vida

Desde o começo do ano, a coloração da água do Rio Tietê e do Rio Grande no noroeste paulista vem sendo questionada. Em diversos momentos, ela fica bem densa e esverdeada. Além da cor, o mau cheiro incomoda bastante os turistas e moradores.

Em dois anos, um levantamento do g1 mostra que foram registrados ao menos 13 casos de mortandade de peixes e camarões no noroeste paulista. Em 2025, a situação piorou: foram seis ocorrências até o dia 21 de março. Os registros ocorreram em Adolfo, Buritama, Barbosa , Glicério, Sales e Novo Horizonte (SP).

Ao g1, a professora e pesquisadora sobre os ambientes aquáticos de água doce da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Maria Stela Castilho, explicou que as plantas aquáticas invadem o rio por se reproduzirem de forma rápida devido ao aumento de nutrientes, que servem de “alimento” para elas.

Como elas são verdes, devido à presença de clorofila, e são muito abundantes, é possível enxergar a água verde, às vezes formando uma nata na superfície. Esse crescimento exacerbado caracteriza o fenômeno da eutrofização.

Pelas imagens de satélite, é possível ver que a cor verde na água se intensifica durante o mês de fevereiro. Isso se justifica, de acordo com Maria Stela, pelo verão, estação do ano com alta radiação, altas temperaturas e maior incidência de chuvas.

Pelas imagens de satélite, é possível ver que a cor verde na água se intensifica durante o mês de fevereiro. Isso se justifica, de acordo com Maria Stela, pelo verão, estação do ano com alta radiação, altas temperaturas e maior incidência de chuvas.

As altas temperaturas aceleram os processos de reprodução das algas que, ao encontrarem condições de radiação solar e de nutrientes, apresentam um crescimento populacional expressivo.

Já as chuvas intensas no verão causam enxurradas que carregam muitos nutrientes para os ambientes aquáticos, inclusive fertilizantes que são aplicados em áreas de cultivo. Então, no verão, incluindo fevereiro, aumentam as condições para o fenômeno ocorrer com mais intensidade.

“É possível que, ao longo dos anos, esse processo de eutrofização esteja ficando cada vez mais intenso devido ao efeito acumulativo de matéria orgânica e de nutrientes na água”, comenta a professora.

Conforme Maria Stela explicou, esses nutrientes são provenientes do esgoto doméstico ou industrial, vinhaça - resíduo da destilação do caldo de cana-de-açúcar -, e de fertilizantes aplicados nas lavouras.

Os aguapés afetam o oxigênio das águas e criam condições inadequadas para os peixes, o que pode causar a mortandade destes animais. A proliferação intensa dificulta também a navegação.

Os impactos negativos econômicos são inevitáveis. As algas que crescem exageradamente têm o potencial de produzir toxinas letais, que podem provocar a morte inclusive de seres humanos.

Estas toxinas podem permanecer nos tecidos dos peixes que ficam impróprios para o consumo, o que pode levar a prejuízos aos piscicultores e lojas que comercializam pescados.

Reunião para soluções

Para cessar o impacto ambiental, é necessário interromper as entradas de matéria orgânica e de nutrientes, é o que aponta a professora. Contudo, essas medidas são de longo prazo, tornando difícil o encontro de uma solução imediata.

Na quarta-feira (9), o Ministério Público de São Paulo convocou promotores que atuam no interior do estado para uma reunião. As autoridades vão discutir se algo pode ser feito pela promotoria diante da repercussão.

Também pensando em debater soluções para reverter a situação do rio, representantes de 28 cidades ribeirinhas do Tietê, como Sales, Adolfo e Glicério, se reuniram em Buritama (SP). Cada cidade recebeu um questionário para apontar os problemas específicos.

À TV TEM, Wagner Casadei, do Comitê Bacia Hidrográfica do Tietê Batalha, comentou que um projeto de lei foi proposto e debatido na reunião para minimizar a produção de fertilizantes que caem no rio.

“Nossa missão é conter esses fertilizantes na agricultura, ou seja, não podemos deixar que esses fertilizantes cheguem até os cursos da água, porque eles estão adubando as algas. A gente sabe que eles são carreados por conta da água das chuvas, choveu leva tudo para o rio”, comenta Wagner.
Em paralelo, a professora da Unesp apontou que as indicações para interromper este processo são o tratamento de todo esgoto, impedindo que seja canalizado para os rios, a fim de diminuir a entrada de fertilizantes na água.

Para isso, de acordo com ela, é importante o reflorestamento das matas ciliares que protegem os ambientes aquáticos.

Outras medidas
No dia 25 de março, o governo de São Paulo anunciou medidas para auxiliar os piscicultores afetados nas regiões de São José do Rio Preto e Araçatuba (SP).

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) falou sobre a liberação de crédito para piscicultores que tiveram prejuízos financeiros e estão impossibilitados de exercer a atividade devido à água contaminada.

Tarcísio garantiu que os trabalhadores afetados, como é o caso registrado em Zacarias, serão acompanhados de perto pela Secretaria Estadual de Agricultura.

As ações tomadas também visam favorecer aqueles que vão migrar de área, adiantando as autorizações especiais para que eles possam exercer as atividades em outros locais.

bottom of page