O sistema de tratamento de esgoto que transformou um rio poluído em fonte de água potável para uma metrópole brasileira
03/06/25

Sistema Cantareira Divulgação/Sabesp
A escassez de água impulsiona soluções inovadoras no Brasil. Um sistema de tratamento de esgoto, integrado à recuperação de um corpo hídrico, exemplifica como efluentes podem se tornar fonte segura de água potável para uma metrópole brasileira, com Brasília liderando em reúso potável indireto em larga escala.
Metrópoles brasileiras enfrentam o desafio crescente da escassez hídrica e poluição de mananciais. O reúso de água surge como alternativa estratégica. Este artigo explora como o tratamento avançado de esgoto pode transformar um recurso antes descartado em água potável, destacando o caso do Lago Paranoá em Brasília, um marco no abastecimento de uma metrópole brasileira.
O desafio da água e o reúso como solução estratégica para a metrópole brasileira
A alta concentração populacional e industrial em toda metrópole brasileira gera imensa demanda por água. Frequentemente, essa demanda supera a capacidade dos mananciais. Estes, por sua vez, sofrem com poluição e urbanização desordenada. Rios e reservatórios próximos a cidades grandes muitas vezes têm águas comprometidas. Seu uso direto para abastecimento torna-se complexo e caro. A crise hídrica no Sistema Cantareira (SP) em 2014 exemplificou essa vulnerabilidade.
O reúso de água trata efluentes para utilização em diversas finalidades. Isso reduz a pressão sobre mananciais de água fresca. O reúso não potável é comum em irrigação e indústria. O reúso potável, para consumo humano, é mais complexo. Ele se divide em Reúso Potável Direto (RPD), onde o efluente tratado vai direto ao sistema de distribuição, e Reúso Potável Indireto (RPI), onde o efluente tratado é lançado em um corpo hídrico antes da captação e novo tratamento. No Brasil, o reúso planejado de esgoto para fins potáveis ainda é incipiente, mas fundamental para aliviar o estresse hídrico urbano, principalmente das metrópoles brasileiras.
Despoluição fluvial e produção de água potável de efluentes
É crucial distinguir “despoluição de rios” de “produção de água potável a partir de efluentes”. O Projeto Tietê em São Paulo, metrópole brasileira, por exemplo, visa recuperar a qualidade do Rio Tietê. Seu foco é ampliar a coleta e tratamento de esgotos, melhorando a qualidade hídrica do rio. Ele não transforma diretamente a água poluída do rio em potável no trecho de maior poluição. O objetivo primário é saneamento e recuperação ambiental. Uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) trata o esgoto antes de lançá-lo no rio, reduzindo a carga poluidora.
Já o Projeto Aquapolo, também em São Paulo, é o maior empreendimento de água de reúso industrial da América do Sul. Ele capta esgoto tratado pela ETE ABC e o submete a tratamento avançado. A água de reúso produzida abastece o Polo Petroquímico de Capuava, substituindo água potável. Embora use tecnologias sofisticadas, seu objetivo é industrial, com padrões diferentes da água potável.
Metrópole Brasileira: Avanços rumo à água potável de reúso
Apesar dos desafios, o Brasil possui iniciativas pioneiras em reúso de esgoto tratado para fins potáveis.
Campinas (SP) destaca-se na pesquisa de RPD. em colaboração com a metrópole brasieira. A Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S.A.) e o CIRRA/USP (Centro Internacional de Referência em Reúso de Água da USP) colaboram nesse esforço. A cidade depende dos rios Atibaia e Capivari, historicamente estressados por poluição e alta demanda.
A base dos estudos é a Estação Produtora de Água de Reúso (EPAR) Capivari II. Ela já usa Biorreator com Membranas (MBR) e ultrafiltração. O efluente de alta qualidade da EPAR alimenta a planta piloto de RPD. Esta planta testa tecnologias como Osmose Reversa (OR), Processos Oxidativos Avançados (POA) com UV/H_2O_2,e Carvão Ativado (CA).
Os resultados são positivos. A água produzida atendeu aos padrões de potabilidade da legislação brasileira (Portaria GM/MS Nº 888/2021). Removeu poluentes convencionais, patógenos e contaminantes de preocupação emergente (CPEs) como fármacos. Apesar do sucesso técnico, o projeto em uma metrópole brasileira enfrenta desafios operacionais e a necessidade de um marco regulatório robusto. A transição para larga escala depende de avanços regulatórios e da aceitação pública.
Brasília, metrópole brasileira, oferece um exemplo significativo de Reúso Potável Indireto (RPI) planejado em grande escala. O Lago Paranoá, um lago artificial urbano, sofreu décadas de poluição por esgoto. Um programa de recuperação da CAESB (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal) melhorou drasticamente sua qualidade. As ETEs Norte e Sul, com tratamento avançado, lançam efluentes tratados no lago.
Com a melhoria da qualidade, a CAESB desenvolveu o Sistema Produtor de Água do Lago Norte (ETA Lago Norte/Paranoá). Este sistema capta água do lago, que já passou por diluição e autodepuração, para tratamento convencional (coagulação, floculação, flotação, filtração, desinfecção) e avançado (adsorção por carvão ativado) e posterior distribuição. Isso configura um RPI clássico. A gestão exige monitoramento rigoroso da qualidade da água nas ETEs, no lago e na água potável produzida. Este caso demonstra que a recuperação ambiental de um corpo hídrico impactado, combinada com tratamento avançado, pode transformar uma fonte antes poluída em água potável segura para uma metrópole brasileira.
Panorama regulatório e tecnológico do reúso potável no Brasil
A expansão do reúso potável no Brasil depende de regulação clara e tecnologias eficazes. Atualmente, não há legislação federal específica para RPD. A Lei das Águas (9.433/1997) e o Novo Marco Legal do Saneamento (14.026/2020) são bases gerais. A Resolução CNRH nº 54/2005 foca no reúso não potável. A Portaria de Potabilidade (GM/MS Nº 888/2021) não menciona reúso de esgoto como fonte. A ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) elabora uma Norma de Referência para reúso, prevista para 2026.
Tecnologias-chave incluem tratamento secundário avançado/terciário (Lodos Ativados, MBR), Microfiltração/Ultrafiltração, Nanofiltração/Osmose Reversa, POAs (Ozonização, UV/H_2O_2), Carvão Ativado e desinfecção avançada (UV, ozônio). A escolha depende da qualidade do efluente e dos padrões a atingir.
Os desafios para uma metrópole brasileira são técnicos (remoção de contaminantes, gerenciamento de concentrado da OR), econômicos (altos custos de CAPEX e OPEX), regulatórios (ausência de marco para RPD) e de aceitação pública (superar o “fator nojo”).