Privatização da Sabesp: como comprar ações e o que dizem analistas sobre a companhia
03/07/24
Divulgação/Sabesp
O período para a reserva de ações da Sabesp começou nesta segunda-feira (1°) e vai até o próximo dia 5, em meio ao processo de privatização da empresa de saneamento básico paulista.
O objetivo do governo do Estado de São Paulo é reduzir sua participação acionária na companhia de 50,3% para 18%. Os outros 49,7% dos papéis já eram listados em bolsa de valores.
Do total de ações disponibilizadas para a desestatização da empresa, 15% foram abocanhadas pelo grupo Equatorial Participação e Investimentos, que passa a ser o acionista de referência da companhia. Outros 17% podem ser adquiridas por qualquer investidor, inclusive pessoas físicas.
A principal forma de conseguir comprar ações da Sabesp neste processo é por meio da reserva de papéis, processo simples que pode ser realizado por meio da conta do investidor em qualquer corretora de valores.
Como reservar ações da Sabesp?
Para participar da oferta das ações da Sabesp que serão disponibilizadas ao mercado, o investidor precisa acessar o ambiente logado de sua corretora de valores.
Neste portal, basta procurar pela opção de "ofertas públicas" e escolher a Sabesp, que é negociada na bolsa de valores brasileira, a B3, sob o código SBSP3.
No momento da reserva, ainda não há a definição de qual será o preço da ação da empresa quando ela for disponibilizada ao mercado. Isso só é definido ao fim do período de reservas, a depender da busca pelo papel.
Então, ao reservar as ações, o investidor precisa indicar:
O valor financeiro que quer desembolsar no investimento;
O preço máximo que aceita pagar por ação.
O primeiro item é a quantia que o investidor quer desembolsar nas ações (como R$ 500, por exemplo). Já o segundo, é quanto ele quer dar por cada papel (como R$ 50 para cada, no máximo).
Assim sendo: se o preço de cada ação ficar, de fato, em R$ 50, o investidor passará a deter 10 papéis da companhia com os R$ 500 indicados na reserva.
No caso da Sabesp, a Equatorial pagou cerca de R$ 67 por cada ação que adquiriu. Então, é provável que o valor fixado para acionistas pessoas físicas na reserva de ações seja algo próximo ao que foi pago pelo grupo acionista de referência.
⚠️ ATENÇÃO: Caso você não tenha uma conta em nenhuma corretora de valores e queira participar da reserva de ações da Sabesp, é importante criar o cadastro o quanto antes. A instituição pode levar alguns dias para aprovar o perfil e, então, liberar o acesso ao portal e aos investimentos.
Mercado financeiro está otimista
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, a oferta de ações da Sabesp pode ser uma boa oportunidade para os investidores que estão familiarizados com o mercado de ações, desde que mapeando muito bem os riscos envolvidos.
A maior vantagem, explicam, é justamente o setor de atuação da Sabesp. O saneamento básico é um serviço essencial para a sociedade, independentemente do momento financeiro.
"Isso, por si só, traz alguns diferenciais, como maior previsibilidade de receitas e reajustes, possibilidade da expansão dos serviços nas regiões geográficas sob concessão, entre outros. Dessa forma, as empresas tendem a ser mais estáveis", comenta Alexandre Pletes, líder de renda variável da Faz Capital.
Robert Machado, analista CNPI da CM Capital, pontua que, até aqui, "a Sabesp tem apresentado eficiência operacional e números consistentes em seus balanços, reforçando sua posição como boa pagadora de dividendos".
No primeiro trimestre de 2024, por exemplo, a companhia registrou um lucro de mais de R$ 800 milhões e distribuiu Juros Sobre Capital Próprio (JCP) de R$ 1,4404 por ação. E apesar de a empresa já entregar números positivos, os analistas enxergam grande chance de valorização da companhia nos próximos meses, caso a privatização seja concluída com sucesso.
João Victor Parente, analista de ações da AZ Quest, explica que, atualmente, a Sabesp é negociada por valores abaixo do seu potencial, por conta de "um histórico de ineficiências regulatórias e operacionais".
"Assim, com uma nova regulação, e com maior eficiência operacional advinda da desestatização, a empresa poderia negociar a múltiplos maiores", completa.
O analista-chefe da EQI Research, Luís Moran, compartilha do mesmo ponto de vista e destaca que a empresa está em um "ponto de inflexão", em que, prestes a ser privatizada, "tem aumentado sua eficiência, reduzindo custos e otimizando investimentos".
O analista afirma que redução de custos e do custo de capital próprio são os principais potencializadores de valor para a tese de investimentos. "Vemos uma significativa geração de valor com o programa de investimentos de aproximadamente R$55 bilhões nos próximos anos, a um custo de capital próprio mais baixo".
"Além disso, a Sabesp privatizada pode ser a maior plataforma de investimentos em saneamento no Brasil, capturando oportunidades e gerando valor em um mercado que deve requerer quase R$900 bilhões em investimentos nos próximos 10 anos", diz Moran.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também acredita que a privatização pode impulsionar os resultados da companhia, principalmente tendo a Equatorial como acionista de referência.
Ele relembra outras privatizações de empresas brasileira, como Vale e Eletrobras, que "reavaliaram suas operações em diversas regiões, implementaram planos de demissão voluntária para reduzir custos e adotaram novos sistemas e processos".
"Essas mudanças tornaram essas empresas mais lucrativas ao longo do tempo. A Equatorial, que tem um histórico de sucesso em tornar grandes estruturas mais enxutas e lucrativas, é um exemplo relevante e sugere que a Sabesp pode se tornar uma opção atraente para investidores nos próximos anos", diz Cruz.
Quais são os riscos?
Embora o mercado financeiro veja com bons olhos a privatização, há um grau de incerteza sobre o processo por se tratar de um repasse para a iniciativa privada de um serviço essencial para população. Isso pode gerar contestações ao modelo na Justiça e pressões à gestão da Sabesp.
"O grande risco diz respeito à eventual não materialização do processo de privatização, eventual judicialização do pleito e o risco de execução do plano de investimentos caso a privatização se materialize", afirma Vitor Sousa, analista de saneamento da Genial Investimentos.
Como mostrou o g1 em dezembro, críticos da proposta de privatização destacam a Sabesp como um exemplo de empresa pública de saneamento competente, e que as métricas de sucesso do mercado financeiro podem não estar alinhadas com o objetivo de uma empresa de serviço público.
"Uma empresa privada é exigida, por exemplo, em termos de distribuição de resultados. Já uma empresa pública é muito menos cobrada nesse sentido. É uma questão que pode criar problemas relativos à continuidade e à qualidade dos serviços, inclusive ao custo da tarifa", afirmou à época o professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp.
Em um paralelo próximo, de privatização de serviços públicos básicos, a Enel — empresa de energia elétrica que detém a concessão do serviço em São Paulo e assumiu o lugar da antiga Eletropaulo — foi alvo de seguidas críticas no início do ano por quedas de energia e demora em reestabelecer o fornecimento.
Até o governado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é entusiasta da privatização da Sabesp, criticou a Enel à época e defendeu que contrato não seja renovado.
Além disso, os analistas ouvidos pelo g1 destacam:
o risco hidrológico, que pode impactar os serviços e receitas da empresa em períodos de seca;
a chance de a empresa não elevar suas tarifas acompanhando a inflação;
os riscos dos investimentos elevados que a companhia deve realizar para aumentar o fator de universalização do atendimento;
mudanças no comando da companhia podem colocar os negócios em direções opostas ao esperado pelo mercado;
o próprio contexto de renda variável, em que o preço das ações pode variar a todo momento, com altas ou quedas expressivas.