Sabesp (SBSP3): euforia faz ação perder teto; veja os preços-alvo
28/02/24
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A Sabesp (SBSP3) deu mais um passo em direção à sua privatização, uma das promessas de campanha do atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que começou a sair do papel no início de 2023. No último dia 15, a companhia deu início à Audiência Pública em que vai estabelecer alguns dos principais tópicos referentes à desestatização, como o contrato de concessão, o regimento interno e o plano regional de saneamento básico.
O documento contém centenas de páginas com propostas de mudanças importantes no atual funcionamento da companhia, que foram bem recebidas pelo mercado. Como mostramos aqui, há tempos, a privatização da Sabesp é vista no mercado financeiro como uma operação que deve aumentar a eficiência da empresa e, assim, destravar valor para os acionistas. Quando o debate em torno da estatal ganhou forças e entrou de vez na pauta eleitoral, em 2022, havia quem apostasse em uma alta de 70% nos papéis da empresa, que à época negociavam na casa dos R$ 56.
O que tem de novo na privatização da Sabesp
O que tem de novo, agora, é o início da discussão sobre o futuro modelo de contrato de concessão da Sabesp para a URAE-1, a unidade regional de água e esgoto composta por 370 dos 375 municípios operados pela estatal. A proposta da revisão tarifária da companhia, que atualmente acontece em uma perspectiva prospectiva que considera investimentos esperados, passe para um modelo que inclua na tarifa apenas os investimentos já realizados, antes da revisão.
“A outra abordagem traria um expressivo incremento nas tarifas tendo em vista o grande pipeline (estoque de projetos) de investimentos estimado para universalização do serviço (R$ 65 bilhões até 2029). Entendemos que essa medida é positiva por viabilizar toda a operação sem grandes pressões tarifárias para os usuários”, avalia Vitor Souza, analista do setor elétrico da Genial Investimentos.
A periodicidade das revisões tarifárias também está em discussão. No modelo atual, a revisão inclui os investimentos na conta somente a cada cinco anos, que é a duração do chamado ciclo tarifário. A proposta na mesa determina que os investimentos sejam reconhecidos anualmente nas tarifas da empresa durante os primeiros dois ciclos tarifários e, passado esse período, o processo retorna ao modelo de hoje.
“Achamos esse evento positivo para o case da empresa por reforçar a necessidade da Sabesp alcançar a universalização até 2029. Caso a empresa não realize os investimentos necessários, simplesmente não irá operar com a tarifa adequada”, destaca Souza.
Os documentos da Audiência Pública estão “bem detalhados” e deixam menos espaço para uma atuação discricionária por parte do regulador, principalmente em relação ao reconhecimento do capex (investimentos) e metas de eficiência. Esta é a avaliação do Itaú BBA, que, em relatório, reiterou a visão positiva em relação a Sabesp e sua privatização.
O próximo gatilho, segundo o BBA, está na conclusão do processo de Audiência Pública, com a definição do novo marco regulatório e a assinatura da concessão URAE, que está prevista para acontecer antes do final do primeiro trimestre. Mas outros pontos ainda estão no radar.
O documento traz como proposta a manutenção da figura de um acionista de referência para operar a empresa com menos de 50% das ações, ao invés de tornar a Sabesp uma “corporation pura” – uma companhia com controle pulverizado entre diferentes acionistas. Neste caso, antes de ocorrer a operação de venda de ações prevista pela empresa, haveria um leilão anterior.
“Gostamos da ideia da Sabesp ter a atuação de um investidor estratégico que desempenhará um papel maior no processo de tomada de decisão da empresa. Mas ainda existem algumas incertezas em relação aos termos da oferta subsequente e ao mecanismo para atrair esse investidor”, destaca o relatório do Itaú BBA.
Hora de comprar SBSP3?
Desde que a privatização da Sabesp começou a ser debatida, as ações da estatal subiram. Em 2023, a SBSP3 saiu de R$ 54,79 para R$ 75,35, uma alta anual de 37,5%. Em 2024, essa valorização continuou: até o fechamento da última sexta-feira (23), o papel era cotado a R$ 80,19 com uma alta de 6,40% no ano.
A escalada do preço fez alguns analistas classificarem a SBSP3 como “cara”. Ainda assim, as recomendações de compra visando a desestatização da empresa se mantêm.
O consenso de mercado do Broadcast, que inclui a visão de sete casas, aponta para a compra das ações da Sabesp. Mas esse entendimento geral positivo para com a empresa contém um descasamento entre as recomendações e os preços-alvo: o call de compra visa o futuro da Sabesp, privatizada, enquanto o target de preço leva em consideração uma empresa ainda estatal. Por isso, muitos analistas continuam recomendando a compra de SBSP3 ainda que a ação esteja sendo negociada a múltiplos mais elevados do que aqueles estabelecidos nas análises.
A Genial, por exemplo, tem preço-alvo de R$ 77 para a SBSP3, mas, mesmo que a ação esteja sendo negociada acima desse patamar, continua recomendando o investimento. A Sabesp é, inclusive, a preferida da corretora no setor de saneamento.
“Apesar do atual preço do ativo estar ligeiramente acima, a nossa avaliação considera apenas o cenário-base da empresa: seguir operando como uma empresa estatal”, explica Vitor Souza, da Genial. “Tendo em vista todo o espaço possível para aumento da eficiência, possível reprecificação de múltiplos e aumento dos investimentos, enxergamos um potencial de destravamento de valor superior a 100% em relação aos preços atuais.”
O avanço da agenda da privatização dentro do cronograma esperado também mantém o BTG Pactual otimista com o papel, com recomendação de compra ainda que o preço-alvo do banco, de R$ 80, também já tenha sido ultrapassado. O modelo pressupõe uma chance de 60% de desestatização da companhia, que, se realmente sair do papel, deve ser revisado para cima.
“A visão completa do potencial privatizado da Sabesp só será conhecido quando tivermos todos os detalhes sobre a proposta de mudanças regulatórias, que deverão ser publicados em abril. Embora ainda faltem alguns detalhes cruciais, o documento [Audiência Pública] indica que provavelmente haverá espaço para que a empresa supere seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda); se confirmado, representaria uma vantagem significativa em relação aos preços atuais”, diz o relatório do BTG.