Sabesp planeja água de esgoto tratada para abastecer São Paulo
09/10/25

Reprodução/Facebook
A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) concentra 39 municípios, incluindo a capital do estado, e uma população de mais de 20 milhões de habitantes. Há décadas, ela sofre com a escassez hídrica que tem sido ainda mais ampliada pelas mudanças climáticas.
Entre 2014 e 2016, a região passou por uma crise hídrica muito intensa e que levou o Cantareira, principal sistema de abastecimento, ao nível zero. Com isso, a Sabesp (responsável pelo abastecimento de quase toda a RMSP) e o governo do estado investiram em obras para ampliar a segurança hídrica e facilitar a gestão dos sistemas de distribuição.
Entretanto, essas obras apenas serviram para mitigar parcialmente o problema histórico da escassez hídrica. Embora a taxa de crescimento populacional seja baixa (0,44% ao ano, segundo estimativa do IBGE), isso acaba impactando ainda mais o abastecimento de água para toda a região que tem no consumo doméstico sua principal demanda.
Mudança de abordagem
Para garantir o abastecimento da RMSP ao longo das próximas décadas, era necessária uma mudança de abordagem. Como acontece em grande parte dos sistemas de captação, tratamento e distribuição de água, há uma forte dependência das chuvas.
Em alguns locais é utilizada água subterrânea, mas ela nem sempre está disponível no volume necessário ao atendimento da demanda. Quando a água subterrânea é utilizada, há que se considerar o tempo de recarga dos aquíferos subterrâneos para que não ocorra uma exploração predatória.
Ao longo das últimas décadas, as chuvas têm apresentado um padrão diferente de distribuição. Fortes tempestades, muito concentradas geograficamente, se alternam com longos períodos de estiagem. Por vezes, chove em poucas horas o que estava previsto para todo um mês. E isso nem sempre ocorre nas regiões mais adequadas à recarga dos mananciais.
Por isso, se faz necessário uma mudança de modelo de abastecimento, reduzindo a dependência da RMSP das chuvas. E isso está acontecendo agora.
Água de reúso
Uma possibilidade que está sendo considerada pelo governo do estado, juntamente com a Sabesp, é reutilizar a água disponível no esgoto doméstico. Sempre que se fala nisso, grande parte das pessoas torcem o nariz, pois acreditam que a água resultante estará contaminada e imprópria para consumo humano. Nada mais errôneo.
Água de reúso, obtida a partir do tratamento de esgotos domésticos, já é utilizada em indústrias de São Paulo e também para limpeza de áreas destinadas as feiras-livres. Essa última função por força de lei municipal. A água é obtida pela unidade Aquapolo da Sabesp e não apresenta nenhum patógeno ou contaminante biológico.
Ela só não é apropriada para consumo por apresentar concentração de sais minerais superiores aos limites de potabilidade. Se o processamento for intensificado, água totalmente adequada ao consumo poderá ser obtida. Portanto, há tecnologia disponível e já em uso.
Na estação espacial, por exemplo, os astronautas fazem uso de sistema similar, por uma medida de economia de espaço e peso. Não há como levar água para meses de consumo de uma tripulação embarcada.
É importante ressaltar que essa não é uma novidade. Essa alternativa chegou a ser considerada em 1969, quando uma forte estiagem reduziu o nível dos reservatórios naquela época. Essa mesma alternativa foi considerada na crise de 2014-2016.
Agora, para fazer frente a uma escassez crônica, o governo do estado de São Paulo está considerando tratar o esgoto e reintroduzir a água em mananciais, reforçando o abastecimento com 2,8 mil litros por segundo, o que representaria uma adição de 4% à produção atual de 70 mil litros por segundo.
É o princípio da economia circular. O que é resíduo hoje vira insumo amanhã. É como reciclar garrafas PET, vidro ou papel. É um passo inicial, mas de grande importância para começar a tornar o sistema de abastecimento da RMSP mais resiliente as mudanças climáticas. É uma mudança conceitual importante que poderá servir de exemplo para outras regiões.
