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Sistema de abastecimento de água e proteção contra cheias colapsaram durante o último temporal

08/04/25

Sistema de abastecimento de água e proteção contra cheias colapsaram durante o último temporal

Luciano Lanes/PMPA

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Prefeitura teria dado ordem para Equatorial priorizar a volta de energia nas regiões das casas de bombas em detrimento do abastecimento de água. Hospitais e comunidades das ilhas, Sarandi e Restinga foram abastecidas com caminhões-pipa
Há sete dias, o sistema de abastecimento de água e as estruturas de proteção contra enchentes voltaram a colapsar em Porto Alegre por falta de energia elétrica, após uma tormenta de chuva volumosa e ventos fortes atingir a cidade, em 31 de março. Os momentos em que a capital mais depende dos equipamentos do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) são justamente aqueles nos quais os eventos climáticos extremos os impedem de funcionar. A chuva da semana passada foi muito menor que a de 2024, mas foi suficiente para paralisar os sistemas devido à falta de luz.

Das estações de tratamento de águas (chamadas ETAs) e das estações de bombeamento de água bruta (chamadas EBABs), somente a localizada no bairro Tristeza seguiu funcionando naquele dia. As ETAs do Menino Deus, do Moinhos de Vento, das Ilhas, do São João e do Belém Novo tiveram suas atividades interrompidas por falta de luz. Nenhuma dispõe de geradores para operação quando a rede não fornece energia elétrica.

As Estações de Bombeamento de Águas Pluviais (EBAPs), que ficaram conhecidas como casas de bombas durante a grande enchente de 2024, também colapsaram integralmente. Nas partes baixas do Centro Histórico, como os arredores da Estação Rodoviária, ou em bairros como Menino Deus, Cidade Baixa ou Sarandi, que por sua topografia são mais suscetíveis a alagamentos, ficaram debaixo d’água por algumas horas. Na EBAP 16, que atende a Cidade Baixa, um dos geradores molhou e os outros dois não ligaram. O prefeito Sebastião Melo e o atual diretor do Dmae, Bruno Vanucci, foram pessoalmente nesta casa de bombas na noite de segunda, devido à preocupação com os alagamentos.

Muitas das casas de bombas têm geradores atualmente, mas esses equipamentos também não funcionaram. A chuva teria molhado a parte elétrica por causa de danos na estrutura que abriga os aparelhos; em outros casos, os equipamentos apresentaram defeitos. Eles são locados e operados por uma empresa com sede em São Paulo, a Tecnogera. Os técnicos que atenderiam o chamado levaram cerca de 24h para chegar à capital gaúcha. Algumas voltaram a funcionar porque foi restabelecida a energia da CEEE Equatorial, outras continuam paradas até os técnicos chegarem no dia 1º.

Prefeitura teria solicitado à CEEE Equatorial prioridade para casas de bombas
Segundo uma fonte informou à Matinal, a prefeitura teria dado prioridade ao restabelecimento das estações de bombeamento, que conduzem a água dos alagamentos para o Guaíba, em detrimento das estruturas de tratamento de água. Essa seria a razão pela qual algumas regiões da cidade, como as ilhas, os morros, o Sarandi e a Restinga, só tiveram o abastecimento normalizado em 3 de abril, três dias depois do temporal. Até lá, as comunidades ficaram sendo abastecidas por caminhões-pipa enviados pelas equipes do Dmae. Pedimos explicações da diretoria da autarquia para entender as razões da ordem de prioridade, mas não obtivemos retorno até o fechamento da reportagem.

Essas informações são corroboradas pelos dados de funcionamento das EBAPs e das ETAs nas horas e dias que sucederam à tormenta da segunda-feira passada, às quais a reportagem teve acesso.

Estruturas públicas e privadas de saúde, ainda sem água tratada, precisaram que caminhões-pipa as abastecessem por um longo período. Hospitais como o Vila Nova, o Moinhos de Vento, o Cristo Redentor e o Presidente Vargas ainda eram atendidos por essa ferramenta emergencial durante a noite de segunda, 31, e durante a terça-feira, 1º de abril. O mesmo acontecia em 23 unidades de saúde em todas as regiões da cidade.

O mesmo não ocorria nas EBAPs. Um relatório das 6h17 do mesmo dia mostra que a maioria já estava em funcionamento, mesmo que parcial. Era o caso, por exemplo, da casa de bombas da Rótula das Cuias, de número 16, que tinha seis de suas oito bombas em funcionamento. Ou a EBAP que fica próxima à rodoviária, que tinha três de suas cinco bombas operando.

Das 23 EBAPs, nenhuma estava parada, depois do colapso total, sendo que 14 delas já tinham todas as bombas em funcionamento.

A ordem da administração municipal, em comunicação com a concessionária de energia, era o restabelecimento da eletricidade para as estações de bombeamento. Seriam prioritárias, disse a fonte à Matinal, as EBAPs da região da rodoviária, da Rótula das Cuias, da Estação São Pedro, no 4º Distrito, da Sertório, da Vila Farrapos e do Sarandi. O restabelecimento da energia às estações de abastecimento e tratamento de água ficaram em segundo plano. “O prefeito Melo considera alto o custo político dos alagamentos e deixa as pessoas sem acesso à água tratada”, disse uma fonte à Matinal.

Desde a enchente do ano passado, não houve aumento do quadro de servidores do Dmae. O departamento opera com aproximadamente 1,3 mil funcionários, 48% menos do que o necessário para prestar um bom serviço à população. Do total de concursados, 400 já podem solicitar aposentadoria, uma perda de 30% do quadro atual fixo. Hoje cerca de 240 dos funcionários do órgão têm cargo de comissionados (CCs) ou são adidos de outras secretarias. Na semana passada, quando algumas comunidades ainda sofriam com a falta de luz e água, a Câmara aprovou a renovação do contrato dos temporários por mais dois anos, o que irá totalizar quatro no total. A aprovação foi vista por fontes internas do órgão como mais uma ação visando a privatização da autarquia.

A prefeitura também planeja chamar 33 pessoas aprovadas em um concurso. Mas o número é menos de um décimo necessário para repor os 400 que já podem pedir aposentadoria.

A reportagem consultou o Dmae sobre a prioridade dada às EBAPs, assim como a respeito do colapso das estruturas por falta de luz e sobre o status atual das casas de bomba, mas o departamento não respondeu a tempo do fechamento desta edição.

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