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Tarifaço de Trump pode colocar EUA em recessão e fazer Brasil perder bilhões, dizem especialistas

22/04/25

Tarifaço de Trump pode colocar EUA em recessão e fazer Brasil perder bilhões, dizem especialistas

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Na “guerra tarifária” do presidente Donald Trump, que busca reduzir as importações e incentivar a indústria norte-americana, ainda é cedo para analisar os efeitos concretos da medida em nosso país. De forma geral, especialistas avaliam que nosso produtos podem tanto desacelerar, pois ficarão mais caros lá fora, quanto continuar competitivos - uma vez que concorrem com países onde a taxação foi ainda maior. O tarifaço é relevante para a economia brasileira, que bateu recorde de US$ 40,3 bilhões (cerca de R$ 237 bi) em exportações em 2024, cerca de 9,2% a mais que o ano anterior, segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).

Estudo publicado recentemente pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) projeta que as taxações provocariam uma redução de 0,25% no Produto Interno Bruto (PIB) global, ocasionando perdas na faixa dos US$ 205 bilhões (cerca de R$ 1,209 tri). Já os EUA e a China, os rivais da disputa tarifária, teriam reduções de 0,7% e 0,6% no PIB respectivamente. Para Edson Paulo Domingues, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) e um dos autores da pesquisa, há ainda risco de recessão nos EUA.

“Reduzir a presença dos produtos chineses nos EUA e substituí-los por produtos nacionais, cuja produção é muito mais cara, vai aumentar o custo de vida dos norte-americanos e reduzir o consumo. Mesma coisa para a China, que também importa muito dos Estados Unidos. Não é bom para ninguém”, avalia. Os EUA estabeleceram uma taxa de 145% para importações da China e de 10% para os demais países. Já a China elevou a taxa das importações dos EUA para 125%.

O estudioso também aponta que a postura de Donald Trump, recuando em alguns pontos e abrindo exceções em algumas categorias de produtos, também leva à uma desaceleração dos investimentos, uma vez que ninguém quer arriscar dinheiro em um cenário de tantas incertezas. “Não conheço economistas que apoiem essas medidas, pois elas não são razoáveis e dificilmente trarão os efeitos que Trump espera”, analisa.

Paulo Vicente, professor de estratégia da educação executiva da Fundação Dom Cabral (FDC), também aponta que a guerra tarifária pode respingar na América do Sul e resultar em certa diminuição das exportações brasileiras. “Com a inflação e o aumento do custo para os norte-americanos, pode haver impacto nas nossas vendas”, aponta.

Ele também enxerga inconsistências na estratégia comercial do presidente norte-americano. “Quanto mais acompanhamos as decisões de Trump, mais percebemos que foi uma medida amadora e sem muito planejamento. A taxa sobre o Brasil e sobre países menores nem faz muito sentido, não é isso que vai resolver a questão do déficit dos EUA. A briga deles é com a China e com a União Europeia”, critica.

O estudo da UFMG aponta, inclusive, que a diminuição das exportações brasileiras e da produção da indústria teriam um efeito de ‘desindustrialização’ na economia. Esse fenômeno teria consequências significativas nas perspectivas de crescimento e geração de empregos mais qualificados e com maior remuneração no Brasil.

“O setor industrial seria o mais afetado, estimando-se uma perda de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 20 bi), o que representaria um impacto adverso considerável na economia brasileira. O segmento de serviços também enfrentaria uma diminuição, com perda de US$ 375 milhões (cerca de R$ 2212.5 bi)”, afirma a pesquisa.

Aço na berlinda
Outro ponto que pode complicar a vida econômica do Brasil é a taxação sobre o aço, de 25%, uma vez que os Estados Unidos é um dos principais compradores do aço brasileiro. Segundo o Instituto Aço Brasil, em 2022, os EUA compraram 49% do total do aço exportado pelo país. Em 2024, apenas o Canadá superou o Brasil na venda de aço aos EUA.

Após o anúncio da medida, o Instituto Aço Brasil demonstrou preocupação com este cenário e relembrou o diálogo entre Brasil e EUA para restabelecer as bases do sistema de importação construído no primeiro governo de Donald Trump, em 2018. Os países negociaram o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semi acabados/placas e 687 mil toneladas de laminados.

De acordo com o Instituto, o não restabelecimento do acordo trará perdas não só para a indústria de aço brasileira, mas também para a indústria do aço norte-americana. “A negociação de 2018 atendeu não somente o interesse do Brasil em preservar o acesso a seu principal mercado externo do aço, mas também o da indústria de aço dos Estados Unidos. Em 2024, o Brasil respondeu por quase 60% da demanda das usinas dos Estados Unidos por placas, de 5,6 milhões de toneladas”, afirma o instituto em nota.

O instituto também ressalta que Estados Unidos e Brasil detém parceria comercial de longa data, que vem sendo, historicamente, favorável ao primeiro - corroborando a fala do especialista da FDC, de que a guerra comercial dos EUA não deveria ser com o Brasil.

“Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos tiveram superávit comercial médio de US$ 6 bilhões. Considerando, especificamente, o comércio dos principais itens da cadeia do aço – carvão, aço e máquinas e equipamentos - Estados Unidos e Brasil detêm uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões”, aponta o Instituto.

Possíveis ganhos
Em um cenário com tantas perspectivas pessimistas, há quem aponte que o país também pode cavar oportunidades em meio às mudanças. Paulo Ferracioli, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que é preciso considerar o todo, e não apenas as taxas isoladas que incidem sobre o Brasil.

“Se estamos competindo em uma mesma categoria de produto com outro país, e ele foi mais sobretaxado, acabamos tendo vantagem para vender esse produto para os EUA”, explica. Um dos exemplos é o café, que recebeu uma taxação básica de 10% de Donald Trump, enquanto os maiores fornecedores dessa variedade, Vietnã e Indonésia, tiveram tarifas maiores, de 46% e 32%.

Outra situação apontada por Ferracioli é o possível aumento das vendas de commodities para a China, já que o país tende a reduzir suas compras dos Estados Unidos. “Principalmente soja, grãos e alimentos em geral. Também vejo possibilidade de expandirmos ainda mais a venda de petróleo e minério de ferro. Pode até acontecer algo parecido com o primeiro governo Trump, em que as vendas para a China superaram as exportações para os EUA”, relembra o professor da FGV.

No entanto, caso isso aconteça, ele não descarta que o presidente norte-americano possa aplicar alguma medida para inibir o comércio entre os dois países. “Ele pode fazer uma retaliação, sobretaxando o Brasil caso ele ultrapasse um determinado número de exportações para a China, por exemplo. São hipóteses, mas que podem vir a acontecer”.

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